O Caminho da Geira e dos Arrieiros (CGA) possui “características únicas”, uma das quais é o crescente número de peregrinos, que o posicionam como favorito à oficialização pelo governo regional da Galiza, entre os oito “neocaminhos” em estudo
“O processo para a oficialização do CGA está em curso, integrado no grupo dos neocaminhos, que inclui também outras sete rotas, algumas próximas e outras dispersas pela Galiza”, explicou Carlos de Barreira, presidente da Associação Codeseda Viva, durante a entrega dos Prémios Abadesa Mariana.
Na sua perspetiva, “o caminho, que atravessa o centro de A Estrada [e parte de Braga], além de robusta documentação histórica, apresenta duas características distintas e decisivas: não converge com nenhum dos caminhos oficiais, pois tem um acesso próprio e direto a Compostela e, desde 2017, foi percorrido por milhares de peregrinos”.
A Associação Codeseda Viva e outras entidades promotoras do CGA “registaram 4.236 peregrinos, número que excede o de qualquer outra rota candidata à oficialização e, de facto, supera a soma das outras sete rotas”, salientou Carlos de Barreira na cerimónia de sábado, dia 27, em A Estrada, Galiza.
Por isso, a associação “acredita que o CGA será brevemente oficializado pelo governo da Galiza”. Além deste, outros dois itinerários em análise começam em Portugal: o Caminho Minhoto Ribeiro e o Caminho de São Rosendo.
Os Prémios Abadesa Mariana foram atribuídos ao escritor, filósofo e Cavaleiro da Ordem de Santiago, José Balboa Rodríguez, e à jornalista Silvia Pampín Otero, pelo seu empenho na promoção do CGA. A Associação Peregrinus Dezae, de Lalín, Galiza, foi reconhecida pelo apoio aos peregrinos, especialmente os que percorrem os Caminhos de Inverno e Sanabrés.
José Balboa Rodríguez foi homenageado por ser “um homem dedicado aos caminhos jacobeus e, em particular, ao CGA, pelo qual tem trabalhado incansavelmente, participando em várias reuniões, conferências e encontros em Portugal. Em Beariz, abriu com sua mulher o albergue de donativo ‘O Repouso do Caminhante’”, explica a Associação Codeseda Viva, que entrega estes prémios anualmente pela quinta vez.
Quanto a Silvia Pampín Otero, foi distinguida por “mais de duas décadas dedicadas ao jornalismo local, durante as quais acompanhou de perto e reportou os progressos na investigação e no reconhecimento do CGA, contribuindo significativamente para a sua divulgação”.
Após a entrega dos prémios, realizou-se um debate sobre o Caminho de Santiago, com destaque para o CGA, moderado pelo jornalista galego Pablo Chichas, que contou com a participação de Gonzalo Louzão, presidente do Concelho de A Estrada, José Manuel Almeida, presidente da União de Freguesias de Caldelas, Sequeiros e Paranhos (Amares), Carlos de Barreira e os premiados.
O Caminho da Geira estende-se por 239 quilómetros, inicia-se na Sé de Braga e atravessa os municípios de Amares, Terras de Bouro e Melgaço, entrando na Galiza pela Portela do Homem.
Nos últimos sete anos, foi percorrido por mais de 4.200 peregrinos, principalmente de Portugal e Espanha, mas também de outros 13 países europeus, e de nações tão diversas como Afeganistão, Aruba, Austrália, Azerbaijão, Bahamas, Belize, Brasil, China, Colômbia, EUA, Japão, México, Palestina e Uruguai.
Apresentado em 2017 na Galiza e em Braga, foi reconhecido pela Igreja em 2019 e em publicações da associação de municípios transfronteiriços Eixo Atlântico (2020) e do Turismo do Porto e Norte de Portugal (2021).
O percurso destaca-se por incluir patrimónios únicos no mundo: a Geira, a via mais bem preservada do antigo império romano ocidental, e a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés. Além disso, o seu traçado é um dos raros cinco que ligam diretamente à Catedral de Santiago de Compostela.